segunda-feira, 27 de julho de 2009

“No princípio estranha-se e depois entranha-se” 
Fernando Pessoa

Todo o ser vivo é constituído sobretudo por água, e talvez por isso o enorme fascínio que temos por este elemento seja em nós uma constante; um eterno idílio liquido que constrói na profundeza mais íntima do ser, ligações umbilicais com o mundo, num fluxo de subtis arquitecturas emocionais.
O grande lago Alqueva: o maior lago artificial da Europa transformou-se por isso, definitivamente num sítio mágico!
No princípio a paisagem parece-nos um pouco estranha, mas logo a seguir, pega-se num barco, pomo-nos ao caminho, pelos trilhos de rota incerta que a liberdade que este corpo aquoso nos proporciona, e vamos assim tranquilamente deixando que a paisagem se deixe lentamente revelar.
A macia sinuosidade da terra,  embala em ouro e verde os seus dourados montes, que se perfilam como dorsos sonolentos recurvados sobre as águas. Pequenas ilhotas que se desvendam sobre o imenso manto líquido. Menires, renitentemente de pé; reminiscências do passado longínquo. Fragmentos fantasmagóricos dos grandes chaparros que sucumbiram à mudança. Aves dançando nos céus. Luzes e sombras que a água espelha no dealbar e no morrer dos dias, diálogo entre o céu e o tremeluzente corpo líquido; uma espécie de ténue sussurro de fluidos que desceram à terra; uma terra de sedes ancestrais finalmente saciadas, por entre misteriosas brumas matinais desvanecendo margens e acendendo novos mistérios.
 




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